18.8.10

A Estação



Às vezes sinto como se eu vivesse em uma plataforma de trem.

Pessoas chegam e partem o tempo todo e eu continuo lá, sentada no velho banco de madeira, sem nunca tomar uma decisão sobre que caminho seguir. Não tenho motivos para partir, mas tampouco para ficar. O que me faz optar pela indiferença, sem nem mesmo perceber que ela é uma escolha.

Fico lá parada observando as pessoas fazerem suas próprias escolhas, presenciando de camarote a alegria do encontro - ou reencontro - e a tristeza da despedida.

Sentindo a alegria e a tristeza.

Sentindo saudade dos encantos daquela primavera e o alívio pela melancolia daquele outono ter finalmente ido embora. Fico lá vendo, ouvindo, saboreando, sentindo, tocando as mais diversas emoções boas e ruins.

Parece que faz tanto tempo que estou ali no mesmo lugar, que a maioria dos passageiros já não se surpreendem com minha presença silenciosa. Alguns me comprimentam, acenam me lançando sorrisos calorosos, enquanto outros apenas me ignoram.

Houve pessoas que passaram por ali e me deixaram marcas profundas, outras esqueceram coisas que guardei para mim. Algumas me mudaram de tal forma, que eu não consigo me lembrar de como eu era antes delas.

Vez ou outra desembarca alguém do trem das 22h que me chama a atenção. Chama atenção, pois, parece estar envolvido por uma espécie de brilho misterioso que clama pelos meus olhos.

Quando aparece alguém assim eu me apresso em segurar a mão estendida e aceito - sem pensar - o convite para caminhar nos trilhos. Não é como se não conhece os riscos, eu os conheço muito bem. Mas simplesmente não posso resistir ao prazer que adrenalina me provoca. Não posso dizer "não" e depois ter de conviver com a dúvida eterna de como teria sido se eu tivesse dito "sim".

Geralmente a caminhada não dura muito. Quando a euforia se dissipa, os passos diminuem. Os obstáculos começam parecer grandes demais. Então inevitavelmente, eu acabo tropeçando. A mão já não se estende mais para mim e o brilho desaparece. Pronto, o motivo que ele precisava para embarcar no próximo trem e me deixar.

Não é por isso que desisto. Me levanto novamente, me arrasto para o banco habitual, soluço baixinho enquanto o sangue quente escorre por meu joelho. Mas um dia o sangue seca, a dor some e o processo recomeça. Um ciclo vicioso.

Estou cansada de esperar por alguém que fique comigo. Quero alguém que me leve com si. Talvez algum espírito aventureiro que já viajou por muitas estações sem nunca conseguir ficar. Alguém que me arraste pelas portas do trem, que arrase brutalmente a nostalgia, que faça o silêncio gritar. Alguém que complete o meu estado pacifico com seu estado naturalmente agitado.

É por isso que continuo lá sentada, esperando pelo vagão que carregue meu destino.





2 comentários: