4.7.11

Amor alcoólico, perfume adocicado.

O baile havia finalmente chegado. A espera parecia ter valido a pena.
Ela estava linda. O vestido rosado lhe caíra perfeitamente bem. Em seus cabelos se formavam belos cachos que suavemente se movimentavam de acordo com seus passos. A maquiagem, impecável, destacava os traços marcantes de seus olhos, que brilhavam com uma intensidade impressionante.
Abotoou as sandálias prateadas e pegou sua bolsa. A grande noite estava se iniciando.
Ao chegar à porta, muitas pessoas já lá estavam. Subitamente, todos os olhares se voltaram para ela. Logo corou, porém seguiu em frente. Encontrou várias amigas, todas igualmente belas.
A festa ia decorrendo normalmente, até que o momento da dança chegou e vários casais se formaram na pista. Ela continuava sozinha, até que de longe o avistou passando rapidamente ao meio de tanta gente. Disfarçou e em seguida fugiu se escondendo atrás de grupos de seus colegas. Ainda não estava preparada para a despedida dele.
Ela ainda o observava, distante, o garoto demonstrava procurar por alguém. Seria ela?
Várias pessoas surgiram, entre elas a que ele parecia estar em busca. A decepção tomou conta dela, lágrimas logo apareceram afogando seus olhos e seus lábios pareciam trêmulos em alguns momentos. É claro que não era por ela que ele procurava.
Agora, os olhos dele brilhavam, o sorriso permanecia constante em suas expressões e as palavras saltavam de sua boca em um ritmo fluente.
Quando o desespero já tomava conta de toda ela, uma amiga chegou e a consolou. Fez com que ela se acalmasse um pouco e lhe deu um conselho enquanto limpava os borrões causados pela maquiagem. Ela iria reagir. Teria de escolher entre falar tudo naquele instante ou se calar, para sempre. Tudo isso a perturbava muito quando optou por seguir em frente.
A festa se encaminhava para o fim e eles ainda não haviam se encontrado.
Todos já começavam a ir embora quando sua amiga o avisou para encontrá-la em um lugar mais reservado, próximo ao jardim.
Ele foi em seguida e se deparou com a garota que o esperava impacientemente, andando em passos nervosos e observando as flores, embora não demonstrasse interesse algum por elas. O perfume que provinha delas se espalhava por todo aquele espaço. Retornou aos seus passos calmos, e ao chegar próximo dela tocou levemente suas mãos para marcar sua presença e se surpreendeu ao percebê-las tão frias.
Ela então sorriu nervosa quando ele lhe perguntou o que havia ocorrido durante a festa para que os dois não se encontrassem. A garota hesitou e inventou uma resposta rápida e incoerente. Agora suas pernas tremiam.
O garoto foi abraçá-la, porém ela se recusou. Ele novamente perguntou o que estava acontecendo e ela nada respondeu.
Ficaram calados e trocando olhares confusos por um curto período até que ela tomou uma atitude. Pegou suas mãos e beijou-o sem pensar.
Ele a parou e perguntou se ela havia bebido, pois sentia o hálito alcoólico. A garota, infantilmente desabou a chorar e acabou confessando os drinques que havia tomado para criar coragem e lhe mostrar tudo o que verdadeiramente sentia. Chocado e sem reação riu histericamente e após isso saiu sério.
O arrependimento de tudo o que tinha feito logo tomou conta dela. Queria sumir, desaparecer daquele lugar, daquele momento e nunca mais voltar a vê-lo.
A lua, cheia, fora encoberta por nuvens pesadas que começaram a chover pingos rápidos e pesados.
Sentada no banco, ia sendo molhada por aquelas gotas crueis, que iam ensopando-na daquela desilusão inesperada, daquela paixão permanentemente perdida.
Foi quando, de repente, ele reapareceu com um buquê de flores e as lágrimas também sendo arrancadas dele.
Indo até ela pediu perdão por ter sido tão bobo até aquele momento, disse que sua vida jamais faria sentido se ela não não fizesse parte dela e lhe ofereceu as flores.
Um leve e tímido sorriso começou a surgir nos lábios dela quando ele a levantou e começaram enfim a dançar ali mesmo, no jardim. Ao meio de uma chuva forte e de um perfume adocicado um novo beijo surgia dentre todas as esperanças perdidas, que então passaram a ressurgir embaladas pela última música daquele baile.